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segunda-feira, 13 de março de 2023

2º livro judaico dos porquês?

O Rabino Alfred J. Kolatch cumpre o que propõe: aprofundar as questões do 1º livro judaico dos porquês. Como no primeiro livro, o 2º Livro Judaico dos Porquês e desenvolvido a partir de perguntas muito interessantes, expondo nas respostas as visões dos judeus Ultra-Ortodoxos, Ortodoxos e Reformistas.

Com uma boa Introdução Geral nos contextualiza a Era Talmúdica sobre Os sábios do começo do período Talmúdico (Talmud, Ensinar, Instruir e Aprender - inserção minha), pag. 4 e os Sábios pós-talmúdicos posteriores, pag.8. Desenvolve algo que observei entre os rabinos que é a Elasticidade da Lei Judaica, pag. 9, ou seja, a democracia de suas teses talmúdicas, isso entre os séculos Anteriores a Era Comum até os séculos da Era Comum. Sim os judeus não leem o tempo como antes e depois de Cristo.

Referenda os Princípios da Lei Judaica, pag.11, citando que “os Rabis do Talmud se empenhavam no processo de interpretar a lei judaica para que atendesse às necessidades do indivíduo e da comunidade em geral, alguns princípios da lei judaica evoluíram, e quatro dos quais são citados neste livro”, págs.. 11-12. São eles: 1 - Princípio de Salvamento de uma vida, “Tão relevante é o princípio de salvar uma vida, que os rabinos não hesitaram em declarar que ‘Picúach Néfesh’ tem precedência sobre o Shabat”pag.12; 2 - O principio do obstáculo, “conhecido em hebraico como lifnê iver ló titen mechs’hol, teria aplicação na discussão sobre a propriedade de se induzirem pessoas a cometerem atos ilegais, das quais elas são suspeitas, para fazê-las cair em uma cilada e depois conduzi-las a julgamento”, pag.14; 3 - O princípio do Fator de Aparência, “Este princípio, conhecido em hebraico como marit áyin (literalmente, ‘o que o olho percebe’), refere-se especificamente a obter uma falsa impressão a partir dos atos de outra pessoa”, pag.14; e o Princípio da Boa Vontade, “Na lei judaica, certas atitudes são proibidas mishum eiva, ‘por causa do ódio (que causariam)’. Tais atos têm o potencial de causar desarmonia entre as comunidades judaicas e não judaicas”, pag.15. 

O livro dividido em 10 capítulos. Uma pergunta interessante se apresenta no capítulo 1, Quem é Judeu? Quem é um bom Judeu?: Por que o filósofo judeu Baruch Espinosa foi excomungado da comunidade judaica? Dentre a longa resposta diz que ele “Fez da razão o seu deus e rechaçou toda crença baseada em superstição ou argumentos falaciosos (...) Espinosa não aceitou a suposta origem mosaica do Pentateuco e criticou suas contradições internas” pag.63. Convém destacar que mesmo com a excomunhão de Espinosa, para os Judeus nunca deixa-se de ser Judeu.

O  capítulo 2, Judaísmo e Cristianismo é repleto de perguntas muito interessantes e não cabe destacar nenhuma, apenas a condição de que para os judeus o Messias ainda não chegou.

No capítulo 3, Judeus em um Mundo Gentio, é muito engraçado pois, ao mesmo tempo que ao judeu é mais gratificante por lei atender a um gentio, também destaca-se o não misturar-se para evitar que se tornem enfraquecidos.

No capítulo 4, Casamento, Casamentos mistos e Conversão, na introdução o autor destaca que “O laço que une os judeus uns aos outros não é o sangue, mas um amplo espectro de ideais, leis, costumes e tradições” pag.119. Assim, uma das perguntas do capítulo é “Por que os convertidos são considerados judeus plenos mesmo que não tenham sangue judeu? A resposta é: O judaísmo não é uma raça, mas uma comunidade unida pela religião, cultura, idioma e outros interesses”, pag.135. Essa condição é desenvolvida no livro Os judeus e as palavras.

No capítulo 5, Aspectos Pessoais a primeira frase da introdução é significativa: “Na tradição judaica, o corpo de um ser humano é considerado de máxima importância, principalmente porque ele aloja a alma dentro de si, e por isto, deve ser mantido limpo e saudável”, pag.150.  “O Talmud afirma que aquele que salva uma só alma de Israel, as escrituras consideram como se tivesse salvo o mundo inteiro”, pag.151. Também no judaísmo não se pode dar a vida por outra vida, destacando que quem o faz é um tolo.

Dentre tantas perguntas interessantes neste capitulo, uma discorre sobre o prazer sexual, contrapondo-se ao cristianismo que entende o sexo como sinônimo de pecado. Para os judeus o sexo não é considerado pecaminoso devido que em Gênesis 1:28 o dever é crescei e multiplicai (pag.153). Isso é tão significativo para os judeus que se um homem “Negar prazer do sexo à sua esposa é motivo pra obrigar o homem a conceder o divórcio”, pag.153.

No capítulo 6, Morte e Agonia para quem está de luto, “...se deram conta de que a pessoa que está de luto não teria interesse em preparar uma refeição”, pag.190 e os amigos e parentes cuidaram do enlutado, Também com relação aos enlutados, “as palavras do Livro dos Provérbios (31:6) (...) presumivelmente o Rei Salomão (...) sugeriu que o vinho forte fosse oferecido àqueles que estão com a ‘alma amarga’”, pag.209.

No capítulo 7, Teologia e Oração é também composto de perguntas significativas e não me ative a uma em especial.

No capítulo 8, Leis e Costumes, “Rabi Iehoshua disse: Não impomos à comunidade um sacrifício que a maior parte dela não possa suportar (...) Como o interesse primário da lei era servir as necessidades do povo, os rabinos do Talmud se mostraram extremamente cuidadosos a este respeito ”, pag.274. Também dentre os escritos Talmúdicos, encontra-se o seguinte cuidado: dentre as leis e os costumes da comunidade, os costumes devem ser os mais atendidos. "Nunca se deve desconsiderar um costume, Pois, eis que quando Moisés foi para o céu (para receber a Torá), ele não comeu pão, e quando os anjos desceram à terra (por exemplo, para avisar Abraão de que iria ter um filho, Isaac), eles comeram pão. O que se deduz é que deve-se seguir o costume local", pag.278. "No tratado de Eruvín, quando se pergunta qual das duas bênçãos deve ser dita, antes de tomar um copo de água, Rabá ben Chaman responde: Saia às ruas e veja o que o povo faz (e então saberá qual a bênção a ser recitada) (...) Rabi Shimon Bar Iochái considera a adesão ao costume tão importante que ele a associa com um versículo bíblico (Provérbios 22:28): Não remova o marco que teus ancestrais colocaram", pag.278. 

No capítulo 9, A Mulher Judia, começa a introdução com a seguinte frase “A sociedade dos templos bíblicos era patriarcal”, pág. 313. Mesmo assim não se nega a importância da mulher na tradição judaica, baseando-se no Gênesis 2:18, que diz que “Não é bom que esteja o homem só; far-lhe-ei uma companheira frente a ele”, pág. 313. Esse capitulo é sempre referendado pelos judeus reformistas, ou seja, aqueles que entendem o  papel de igualdade da mulher nos tempos modernos. Também destaca-se nesse capítulo a importância da Mulher no Egito, que sua referência educativa permitiu que os hebreus libertassem-se. Na modernidade, a igualdade entre os gêneros, a ordenação de Rabinas é um dos avanços destacados.

No capítulo 10, Alimentos e Rituais, na introdução o Rabi Aba Aricha, “disse que chegaria o dia em que toda pessoa teria que prestar contas de todo alimento que viu e não experimentou”, pag. 337. E o Rabi Iehudá ao ser perguntado como prova-se que o Shabat é uma delícia ele responde: “Prova-se preparando um prato de beterraba, um peixe grande e dentes de alho”, pag.337. Um destaque do Rabi Iosse: “Não se deve viver numa cidade que carece de horta. São dados dois motivos para isto: o primeiro deles é que será mais difícil conseguir verduras e a dieta terá que ser à base de laticínios e carnes, o que fica mais caro; e o segundo, os vegetais fornecem nutrientes para o corpo e é melhor viver em lugares onde se possa obtê-los em abundância”, pag.338.

Interessante quanto aos alimentos apropriados, casher em hebraico, vai de como eles são preparados. Para muitos dos alimentos não casher não existe fundamentos para seu uso ou não. Importante para os judeus lavar as mãos três vezes, sendo que a primeira para limpar as mãos. A segunda tira a impureza ritual e a terceira para purifica-las, pag. 351. Também esse capítulo apresenta que após a destruição do segundo templo no ano 70 da era comum, a mesa familiar passou a representar o altar do templo, pag.350.

Enfim, o Primeiro e o Segundo livro judaico dos porquês são leitura essencial para conhecer o judaísmo e entender os fundamentos da religião no ocidente, seus rituais, seus preceitos, suas influências na organização do pensamento.

2 comentários:

  1. Interessante essa cultura judaica. Boa iniciativa.

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    1. Sim. Nesses livros que encontrei aleatoriamente o primeiro, aprendi muito e desfiz alguns preconceitos quanto ao judaísmo e ao mesmo tempo entendi que em outras religiões suas premissas devem ser conhecidas,

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