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sábado, 25 de maio de 2024

Homenagem ao povo de Parobé

Numa conversa rápida no Messenger, no Facebook, minha amiga, diz que seu pai escreveu um livro e se eu não gostaria de adquiri-lo. Imediatamente aceitei. Em poucos dias recebi o livro com dedicatória do autor, pré-escrita, e com uma dedicatória dela; “Com carinho, ao meu amigo de muitas lutas pela educação. Marlene Damian”. 

Antonio Damian, o Tone, é um exemplo do quanto é significativo a formação do saber ler e escrever. Num momento delicado para todos nós, a pandemia da COVID-19, ele ocupa seu isolamento para escrever suas memórias. Assim como muitos fizeram. Escreveram, pintaram, música, bordaram, veicularam na internet suas ideias e assim novas vozes apareceram. Seu Tone, aos oitenta e cinco anos nos presenteia trazendo pessoas, expressões culturais, religiosidade e paisagem de Parobé e seu entorno, no município de Laguna.

Li, melhor, devorei o livro em duas horas. Uma linguagem fluída, com relatos escritos como uma contação de histórias. Seu Tone relembra as famílias e formação das comunidades, o comércio e serviços, os costumes, as construções, a saga de camarões, moradores que participaram da gestão pública, as diversões, a natureza, eventos, fatos e curiosidades, a escola, as brincadeiras das crianças e adolescentes e aventuras, histórias e causos.

Enquanto lia o livro, identificava sobrenomes de conhecidos, pensando em suas árvores genealógicas; histórias para pesquisas de historiadores nas áreas da Antropologia, Arquitetura, Artes, Educação, Geografia, História, Meio Ambiente e outras.

 

O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado

O livro de Michael J. Sandel (recebi o livro como promoção pela inscrição no Instituto Conhecimento Liberta – ICL) é a visão de um estadunidense. Traz reflexões a partir de pesquisas nos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, portanto, a partir de sua cultura e referências bibliográficas anglo-saxônicas. Tem uma visão capitalista para sanar os problemas do capitalismo. Sim, ele não cita o comunismo ou o socialismo como soluções para os limites morais do mercado. Reflete o que o dinheiro não compra, sem indicar porque o dinheiro compra, emergindo assim com o triunfalismo do mercado: tudo está à venda.

Ele cita, dentro do capitalismo e mercado, exemplos como comprar um lugar para esperar na fila. Todos sabem que a ética da fila é um modelo sagrado de ordem de quem chega primeiro conquista o lugar, no entanto, foi criado um negócio das filas, transformando o lugar sagrado de chegar na fila, em eu pago para alguém ficar na fila. Cria assim os cambistas de consultas médicas, que vendem seu trabalho de ocupar o lugar na fila.

Outro exemplo que ele cita, é a iniciativa de esterilizar mulheres viciadas com o incentivo de trezentos dólares para elas não procriarem, evitando que crianças já nasçam propensas ao vício. Essa iniciativa teve as críticas quanto a visão econômica da vida, remetendo a que ponto chega o limite do mercado.

Ele destaca a troca de presentes por vales-presentes, indicando a incapacidade de dar um presente em troca de um valor para ela comprar o que quiser, evitando assim a possibilidade de errar o gosto, o número ou a forma do presente.

Interessante é o que ele cita dos bolões da morte em que empresas compram seguro de vida dos funcionários, instituindo a si mesmas como beneficiárias. Explorando os funcionários em seu trabalho e apostando e lucrando com sua morte, alegando ser um investimento. O nome deste investimento é conhecido no meio como Seguro do Zelador ou Seguro do Camponês Morto. Dentre as empresas que compravam apólices em nome dos empregados estão a Nestlé USA, Walmart e Walt Disney. Bancos também fazia parte destes investimentos.

Cita a venda de órgãos, de sangue, um amigo, um prêmio Nobel, um troféu de um campeonato como relações do limite moral do mercado e que não pedem ser comprados.

Há mais exemplos de comercialização e não comercialização que nos fazem refletir, a partir de um ponto de vista dentro do capitalismo, sobre os limites morais do mercado. Faço um destaque importante: o autor não considera a transformação social das relações de trabalho e capital como o sistema comunista e socialista.