Esperei uma vida
inteira para ler sobre Marilyn Monroe. Sim, esperei. Não quis ler qualquer
coisa. Não quis entrar nas historietas sobre o mito. Esperei para encontrar,
assim, meio que ao acaso com a loira, num encontrão destes do dia-a-dia. Agora,
em 2020, encontrei dois livros que me aproximaram dela e daquelas tardes de
Sessão da Tarde em que passavam filmes dela, e em particular, O Pecado mora ao
lado.
A mulher linda, a atriz
talentosa, a atriz que atrasava todo um set de filmagem e deixava todos loucos
existiu. Sim, Marilyn era isso mesmo.
Mas não por glamour ou por sentir-se melhor que os outros. Marilyn era assim
por insegurança, por querer fazer o melhor, por exigir de si. Nesse desejo os
atropelos da vida.
A linda Marilyn era insegura.
Bipolar nas patologias de hoje. Ela não nasceu linda, nem talentosa, nem
insegura. Sua trajetória de vida a fez assim. Viveu sem conhecer quem era o pai
e isso ela buscou compensar durante sua vida. Para a psiquiatria e psicologia
da época isso era significativo na vida de uma pessoa. Também viveu em
orfanatos e casas de outras pessoas, não tendo aquele tradicional lar fixo,
pois sua mãe tinha transtornos sérios e isso também a marcou, vivendo com medo
de ter os mesmos problemas da mãe.
Marilyn foi projeto de Grace uma
amiga de sua mãe, Gladys, que trabalhava numa agência de cinema e que projetou nela a
ideia de ser uma atriz, loira nos moldes da atriz Jean Harlow, loira. Assim
cresceu Norma Jeane. Envergonhada por não terminar os estudos, passou a vida
sempre buscando se aprimorar.
Uma mulher livre. Dormia nua. Andava
sem as roupas íntimas (sempre adorei isso). Prostituiu-se para comer, mas não
prostituiu-se para viver, crescer, melhorar. Tocou a vida. Viveu sua sexualidade como mulher. Marilyn
tinha um plano traçado e entre 1952 e 1962 entregou-se a seu sonho.
Em sua biografia não se tem
indicações de aspereza com os outros. Em frente às câmeras era Marilyn, quando
em 1956 passou a distinguir-se na terceira pessoa. Passou entender sua
importância. Passou a questionar-se eu ou ela? Nesse trajeto estava a mulher
aprendendo com a profissão de atriz.
Significativo para mim, saber que
ela gostava de animais. Gostava de crianças. Interessava-se pelos direitos
civis. Respeitava e ajudava a todos. Ella Fitzgerald agradece a ela por lhe levar The Mocambo a casa de espetáculos mais famosa de Hollyhood em que não cantavam negros, e comprometer-se pessoalmente em assistir a todos os shows. Ella Fitzgerald era negra. Marilyn não era racista. Lia James Joyce, poesias e lia seus roteiros com criticidade. Estudou no
Actors Studios, de Lee Strasberg que trouxe os conhecimentos de Stanislavski para os EUA. Tinha uma professora constante ao seu lado para lhe ajudar nas
representações. Para ela tornou-se uma dependência.
Marilyn buscava sair da comédia,
da qual era perfeita nos tempos e interpretação e queria papeis de outro gênero como o drama. Um galgar
de nível.
Como a maioria dos atores daquela
época, anos 50 e 60, era usuária de drogas, que os mantivessem o mais ativo possível. Para ela,
as drogas passaram a ser terapêuticas dado sua bipolaridade. Mas não foram as
drogas em si que a prejudicaram, mas as pessoas de seu entorno. A loira
tornou-se famosa e por mais que ela se afastasse dos dependentes afetivos e
financeiros, não escapou a tempo. Uma relação doentia do psiquiatra e da governanta
quisera amarrar aquela que agora estava se libertando dos medos, da insegurança
e iria voar outros voos. No seu momento de nova felicidade, de novos objetivos, de novos projetos foi medicada erroneamente. Marilyn iria galgar seu degrau de atriz dramática, de profissional madura, de retorno a relação com Joe Dimaggio Jr., seu segundo marido. Mas seu psiquiatra já descartado por ela e sua governanta possessiva também já demitida não permitiram perder o quinhão da fama que ela lhes proveu.
Sua relação com John F. Kennedy, um dia apenas, foi apenas um encontro de dois célebres. Nada mais.
As teorias conspiratórias incluindo Robert Kennedy, não passaram de fake news de extrema direita.
Em sua biografia entende-se Hollyhood, outros atores e atrizes, a sociedade estadunidense.
Marilyn é única, tanto em sua genialidade, como em sua beleza, como em suas dores. Assim como todos somos, únicos.
Marilyn é única, tanto em sua genialidade, como em sua beleza, como em suas dores. Assim como todos somos, únicos.
Esse livro dos Fragmentos escritos por Marilyn é complementar e significativo, pois revelam-na
por si própria, sem brilhantismo ou idealizações. Mostram a Marilyn como era,
como gostaria de ser, como sentia. De seu próprio punho. Os comentários e traduções respeitam e mostram a beleza dessa mulher.