O livro de Leandro Narlock é uma dessas pérolas que surgem
para nos intrigar, fazer rir e pensar. Intrigar porque mexe em fundamentos que
nos orgulham em ser brasileiros. Santos Dumont é destronado, os negros e índios
passam a ter um elemento crucial na sua história, deixam de ser bons selvagens
e passam a ser homens de seu tempo, traficando e escravizando quando libertos
ou bem pagos.
Rir porque realmente o que se escreve nesse livro nos faz
rir de nós mesmos e das obviedades que ululam em nossa frente, mas não podemos
ver. O capítulo que fala sobre as grandes bobagens de nossos autores é muito
engraçado.
Pensar porque, mesmo não sendo historiador, fica sempre a
dúvida: será que as fontes usadas no livro são realmente fidedignas ou o autor
pescou um parágrafo aqui outro ali e foi montando sua versão?
Isso é acentuado
quando o autor se coloca. Fica faltando um contraponto. Um contraponto que
identifique as asneiras de todos e não somente de alguns. Fica ruim talvez engolir
as obviedades da guerrilha no período da ditadura bem como aceitar simplesmente
o determinismo que o capitalismo é o melhor para todos, sendo que ele leva ao
lugar comum do “tá vendo a vida é assim mesmo” escondendo a descriminação entre
pobres e super ricos, negros, mulheres, homossexuais.
O livro fica devendo também quando ele pré-julga que os
líderes socialistas brasileiros fariam pior ou igual aos outros exemplos como União
Soviética, China, Cuba dando levando a falsa idéia que a fraternidade,
solidariedade e a distribuição de renda não são ideais a serem concretizados
numa sociedade mais justa para todos.
É uma leitura agradável, traz questões a serem pensadas,
fontes a serem observadas pois fazem parte da interpretação do autor e o livro perde
seu valor quando o autor desmerece atitudes humanitárias em favor de uma apologia
ao capitalismo que não pode contribuir para uma sociedade em que a miséria e a
pobreza sejam erradicadas sem a distribuição mais justa da riqueza que é fruto
do trabalho de todos. Talvez por isso ele possa se tornar uma daquelas "pérolas" ou simplesmente ser um guia incorreto...
Amigo Ricardo, li este livro e como toda leitura que trata de um certo revisionismo histórico, para mim é bem vinda. Funciona como um oxigênio no meio de tantos dogmas intocáveis. Versão ou não versão, fato histórico ou suposição, verdade é que, não existe verdades corretas, existe apenas aquela em que se quer mostrar! O grande recado do livro, em meu entendimento é a possibilidade enriquecedora de se construir a nossa percepção, a nossa idéia do meio em que vivemos, passado, presente e futuro. Termino com a frase célebre de Nelson Rodrigues que nos dizia ser, toda a unanimidade, burra! Grande Abraço e parabens pela postagem, excelente!
ResponderExcluirOi Márcio. Estou com saudade. Bem li o livro nesta perspectiva de sair da unanimidade mas quando cheguei ao final o autor caiu na unanimidade de que o capitalismo é o melhor. Reitero que os mitos devem ser desfeitos mas os da unanimidade capitalista acham os erros de seus representantes comuns e corretos. Veja matar no Vietnã é banal. Atacar a baia dos porcos é banal. Torturar em Guantánamo é banal, O autor está nessa unanimidade tudo vale se for para defender o poder econômico dos capitalistas que não existiriam sem a exploração do trabalho, o que para o autor isso é retórica de esquerda e unanimidade burra. Penso que o autor nesse caso faz parte da outra unanimidade burra. O que não é o seu caso nem o meu pois sabemos distinguir as unanimidades. Excelentes são sempre os seus comentários. Um abraço.
ExcluirRicardo, quanto a retórica do capitalismo exercida pelo autor leandro Narlock, não podemos esquecer que ele é cria da Veja e lá trabalhou bons anos! A Veja é porta-voz do capitalismo internacional em solo brasileiro, é a globalização do pensamento ideológico e nada mais natural que... Mas sua observação foi pontualíssima: è o outro lado da tal unanimidade burra de Nelson Rodrigues... Abraços (dia 16 vou aparecer na SED e farei uma visita a vc)
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