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sábado, 12 de outubro de 2019

Do ódio à cultura da Paz


Um dos gêneros da literatura, as publicações de diálogos entre pensadores de fontes diferentes são uma boa referência para aprendermos a respeitar a diversidade das manifestações da Vida. Um encontro entre um ateu e uma monja.  Ateus não são os que não creem em deuses, são os que creem na vida resolvida aqui e tudo é criado nas relações materiais, desde o universo até as emoções. Religiosos são os que creem em deuses, elementos fora da vida material, espíritos, almas, que independente da vontade material, participam e influenciam a vida na terra. Detalhe, tendo outras formas de vida, elas habitam outros mundos. Normalmente todos com base no modelo social daqui. Essas duas visões de mundo não se negam, não se confrontam quando a referência imprescindível é o RESPEITO A VIDA.
O livro começa de uma forma muito engraçada, a Moja Budista reconhece no Ateu uma prática sua: acordar cedo, meditar e estudar. Isso já indica o quão instrutivo será o diálogo.
O subtítulo “Do ódio à cultura da paz” está muito bem contextualizado, pois reúne dois pensamentos que ao longo da história do senso comum, são opostos. Karnal e Coen conversam e nos mostram como o medo, um protetor natural, nos transforma em violentos. E tanto ateu como crente, sabem que a disciplina nos liberta. Qualquer disciplina em que o critério seja a não violência. Estão fora aqui os que se disciplinam para o uso de armas.
Nesse caminho nos convidam a desenvolver a Tolerância, defendendo-nos das “provocações” que despertam as violências recônditas em nossa formação individual. Evitando a reação violenta. Nos convidam ao eterno estudo de sim mesmo, procurando superar nossos Limites.
Para isso, trazem a ideia das diversas maneiras de pensar que existem. Cito uma que aconteceu comigo. Em uma relação de trabalho, na hora do almoço, o colega que era gerente observou que eu comia a salada sem qualquer tempero e fez questão de destacar: - Cara, eu só como salada se for bem temperada. Ao passo que respondi: - Bem, acabas de observar que não há somente uma forma de comer salada. Com essa compreensão de que existem outras formas, eles nos convidam a criarmos defesas que evitem em nossa prática a violência. Então sugerem que ao vermos algo diferente, troquemos os bordões: “isso me incomoda” pelo: “isso é outra forma de existir”. Assim, nos levam ao caminho do Respeito e autoconhecimento, fazendo-nos prestar atenção em nós.  Tal procedimento nos leva a termos Foco e Resiliência. Tal atitude nos libertará da necessidade de agentes coercitivos como Policiais, Seguranças e Soldados porque buscaremos o consenso. Numa sociedade violenta Policiais e Seguranças são significativos para ajudar na conciliação, sem é claro, serem sujeitados a fazerem o “trabalho” sujo de agredir, matar, mas de defenderem tanto que esta na mira da arma, como quem está com a arma. Todo sujeito que usa uma arma e porque precisa de ajuda.

E para uma Cultura da Paz, o caminho é respeitar o outro. O primeiro respeito é COMIDA NA MESA, EDUCAÇÃO E LAR PARA TODOS. O segundo é observar o nosso em torno. Não há um só vegetal. Não há só um mineral. Não há um só gás. não há um só animal. Cada um destes possui uma diversidade enorme. Entre os animais estamos nós, os mamíferos. E dentre os mamíferos, os primatas. E detre os primatas, estamos nós, os Seres Humanos. Dentre nós as etnias, alturas, pesos, cores dos olhos, culturas, Dentro da cultura, cada um com sua leitura,tanto que não temos só uma música, só um livro, só uma dança, só uma palavra, só um gesto, só uma sexualidade. O Universo se faz com a comunhão a anos-luz do menor grão de areia coma maior estrela. Para nós Seres Humanos a PAZ só pode existir com a nossa vontade.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Francisco de Assis: O Santo Relutante

Francisco (1182-1226) de Assis: O Santo Relutante é uma biografia de tirar o fôlego. Contextualiza-nos o período de Francisco, desmitifica as lendas em torno do homem Francisco e desvela a áurea de Santidade, sempre desprovida de humanidade. Isso, a ideia sobre os santos e o próprio Cristo de não pertencerem a este mundo, ludibriando com certa ironia, o humano. Sim, ser Cristo e ser santo está ligado diretamente a ideia de ser o filhinho protegido, que sabe que é poderoso e não vive humanamente. 

Essa biografia de Francisco, com ou sem intenção, justifica o porque de sua singularidade. E não é o viver desumanamente. Não é viver como o filhinho de papai, que faz tudo e o poder o livra. Não, essa biografia mostra o ser humano Francisco. Pensando nos animais citados nas sagradas escrituras e na manjedoura berço do filho de deus, somou dois mais dois e criou o primeiro presépio. Já, não foi o caso da" Oração atribuída a ele, A Oração da Paz, também denominada de Oração de São Francisco, é uma oração de origem anônima. Foi escrita no início do século XX, tendo aparecido inicialmente em 1912 num boletim espiritual em Paris, França".

Além disso, Donald Spoto nos faz conhecer a idade média italiana, as doenças, das quais Francisco foi vítima. Sujeito aos problemas de seu tempo e, humanamente com todas as limitações daquele contexto, ser Francisco de Assis e não o jovem romântico retratado na arte, no cinema, limpinho, bonitinho. Jesus que o diga. De judeu virou um italiano de olhos azuis, loiro e alto. Depois um estadunidense com as mesmas características. É isso que essa biografia faz: biografar sem romantizar ou teologizar. Esse Francisco doente se faz santo relutante, justamente por saber-se humano.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O que aprendi com Karnal, que aprendeu com Hamlet e o que aprendi comigo


O que aprendi com Karnal, que aprendeu com Hamlet o que aprendi comigo. Sim, Karnal nos convida a aprender conosco. Sim, em uma das frases finais, pra mim foram quatro finalizações,  ele escreve:  A primeira, pagina 181, “Como você lida com sua noz e com o nós. O resto de fato é um imenso, denso e profundo silêncio”; A segunda, página 184, “ ler Hamlet reelabora nossos mundos e nossas concepções sobre o que somos, o que não devemos ser e aquilo a aspiramos ser”; A terceira, página 187, “ Como nos movemos entre dor e júbilo registra a resposta do nosso próprio ’ser ou não ser’; A quarta, página 200, “ O bardo (Shakespeare) está lá na peça há mais de quatrocentos anos. Ele não precisa de você, você precisa desesperadamente dele para compreender a trajetória do homem no teatro do mundo. Atenção, a cortina está se abrindo, o espetáculo vai começar“.E já estaria bom. Só que não.
Conversando com meus filhos sobre O que aprendi com Hamlet é um livro que nos oferece um compêndio. O primeiro, conhecer a obra Hamlet e no final Karnal nos oferece uma gama de publicações da peça de Shakespeare, filmes e livros a respeito. Segundo conhecer Shakespeare. O terceiro conhecer uma estrutura textual do gênero Tragédia para teatro, atos e cenas. Terceiro transitar por conceitos como Ética, Política, Sexualidade, História, Amor, Vingança, Traição, Amizade com o olhar de outros autores. Quarto pensar sobre si. E quinto, o que me chamava à realidade, Hamlet é uma obra literária, uma criação com referência na vida de Shakeaspeare, no contexto da Inglaterra no século XVI, mas uma ficção. No meio do caminho eu pensava que estava lendo um fato histórico, real, mas era sobre uma obra fictícia. Outro conceito significativo de Hamlet é o da construção do Ser Humano Moderno. A personagem do século XVI indica o que viríamos a ser no século XX.

Essa obra relembrou o Livro We, que li em 1994, por sugestão de Lúcia (1965-1996). Nele, o autor Robert A. Jonhsom nos brinda, como Karnal, com a construção de um sentimento que também iniciou no século XVI, o Amor Romântico a partir do mito de Tristão e Isolda surgido na idade média e fonte de muitas obras teatrais, dentre elas Romeu e Julieta. Ele perpassa todo processo de relacionamento dos dois, desvendando cada Ato e Cena a construção do Amor Romântico, seus altos e baixos, até a compreensão e distinção deste sentimento que se cristalizou no cinema hollywoodiano no século XX. Assim como o Ser Humano Moderno, agoniza em sua transição as contradições normais de todo processo histórico. Sim, estamos em constante construção, somos hoje uma colcha de retalhos.

Como nos ensina Karl Marx no 18º Brumário de Louis Bonaparte: " Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos".
Assim, faço a leitura que Shakeaspeare, Jonhson e Marx indicaram o Ser Humano Moderno. Conforme o livro de Karnal podemos ter ciência do Ser Humano Contemporâneo e não mais ter "o pesadelo da tradição nos oprimindo", mas nos guiando no presente, ou seja, no seculo XXI somos e somos eis a questão.