Li bem pouco neste período. Li mais sobre terapia individual como O cavaleiro preso na armadura. Um livro muito gostoso de ler e voltado para quem quer deixar de ser macho, homem ou qualquer rótulo que indique um produto com fórmula. Esse livro traz a história de um cavaleiro que não se deixava tocar, certo de seu papel, sempre buscando lutas para libertar princesas e matar dragões, claro protegido (ou escondido) dentro de sua armadura. O processo de "desarmaduração" é muito bem descrito e nos traz reflexões fora do óbvio. Li um capítulo por semana, conforme orientação de minha terapeuta, que não pude salvar de um dragão, pois ela já era salva ou gostava do dragão, ahahahah. Acho que não sai da armadura. Favor não confundir sair do armário, pois essa é uma das bobagens que o livro nos orienta. Rótulos, enquadramentos só servem para objetos, produtos e fotografia. Seres humanos são "inquadráveis".
Outro livro que li foi O manual do pai solteiro em função de minha separação. Muito ansioso pela paternidade, não me imaginei longe dos meus filhos, para ser mais exato, o conceito de Pai não confere com viver longe dos filhos. Interessante, pois, morar junto e estar ausente por trabalho iguala-se a viver distante. Não, não cabe estar junto com qualidade nos poucos momentos, tampouco, a paternidade estar associada à provimento. vivo longe para sustentar minha família. Bons tempos, não sei, mas já passaram. Bem, voltando. Angústia em ficar longe dos filhos. Separar-se da esposa aceitável, filhos são para sempre. Mas o são com responsabilidade e não com saudosismo. Assim, passei por um processo de afastamento dos filhos, imposto pelo velho conceito de "presidiário ou doente internado", visitar quinzenalmente nos finais de semana. Morrer é a palavra para conceituar essa situação: pais ficam longe, lembra da frase acima? e mães cuidam. Assim foi meu inferno de conquista de criar os filhos. Desorientado, com orientação de um advogado, fui conquistando o direito a essa presença.
Primeiro fui morar num hotel e os levava para lá no maldito quinzenal. Sendo que todo dia pela manhã ia a escola dar bom dia, o que fiz no período em que estava casado. Não falhei um dia. Ou ia de taxi, noventa por cento, ou ia a pé. Não podia ficar sem dar bom dia a meus filhos na primeira hora da manhã. Com o tempo, passei a ir quinzenalmente a Criciúma e ficou mais leve. Grrrrr!!!! De quinzenal, conseguimos (advogado) que dormiriam nas quartas-feiras. Já havia saído do hotel (o dinheiro acabou) e fui morar em uma quitinete, próximo à escola. Logo comprei mais pratos, copos e dois colchões. A vida, o amor, tudo tornou-se melhor. Poder dar café pela manhã, acordá-los, levá-los à escola, participar da vida deles. Ainda não estava separado formalmente.
O que mais gostei, é que na semana da audiência de separação, a lei da guarda compartilhada foi promulgada. Alívio total. Mas ainda morava numa quitinete e não tinha um padrão de casa para viver com eles. Medo, muito medo, de não poder viver com os filhos.
Na quinta-feira foi a audiência. Tudo mudou. Tudo. Com aquele receio de mãe ter que ficar com os filhos, fui temeroso e esperançoso com duas únicas certezas a separação e viver com meus filhos, criá-los, fazer comida, cuidar das roupas, morar juntos. Na audiência, a juíza, uma portuguesa dita como severa e a promotora, já com esse conceito também, me surpreenderam.
Ao tratar da separação, elas se ateram a duas coisas; separação e guarda dos filhos. Eu, disse que queria a guarda compartilhada, mesmo querendo a integral, argumentei que eu tinha o direito de conviver com eles e ter a rotina de acordar, fazer comida, levar, trazer. No que a promotora olhou-me e disse que não. Esse era um direito dos filhos e por isso eu teria a guarda compartilhada. Sabe o que é tirar uma pedra das costas? É pior.
Solicitei uma semana para poder me organizar. Saí da audiência e fui fechar negócio de um apartamento com três quartos. Tinha colocado como meta que cada filho teria um quarto, já era hora de terem sua individualidade, seu espaço. Liguei para o locatário em Laguna. Fechamos negócio e corri atrás de mobiliar o apto. O que eu tinha? Dois colchões. Sexta-feira corri lojas, fiz orçamentos e na quinta-feira seguinte, já estava com o apto mobiliado, sem sofás claro. Os colchões tornaram-se sofás. Assim, ainda faltou a geladeira que só seria entregue na segunda-feira. E claro, uma dívida daquelas! Estendi mais um fim-de-semana torturante (nem tanto) e pude iniciar minha vida de pai solteiro. Até hoje eles moram comigo. Amo viver com eles.
Nesse caminho tive alguns embates com rótulos e enquadramentos que me fizeram ficar mais forte. Um primeiro, passo longe do conceito de que estar solteiro é abandonar os filhos para cair na folia. Nunca tive esse desejo, até porque a folia para quem tem filhos é ausência de responsabilidade. Um segundo, foi o conceito de que nenhum juiz dá a guarda para o pai. Fui agraciado por um período em que a lei favoreceu-me e com uma juíza e promotora que dedicaram-se ao contexto e não ao gênero. Compreendendo os tempos modernos. Nesse ínterim fui agraciado com o amor de uma companheira que me fez e faz bem. Mas não corresponde ao conceito de que homem não pode viver sem mulher. Pois toda minha força de ser pai presente está em mim, pois não concebo mulher como empregada. No período que fiquei com meus filhos cozinhei, lavei, passei, limpei e continuo assim. Meu pai foi meu referencial de independência pois nos criou cozinhando e contando suas histórias de que passava suas roupas, fazia sua comida, pois foi solteiro e morou sozinho.
Quanto ao livro O manual do pai solteiro é muito bom, pois ele, jovem, ficou com uma filha de poucos anos e gradativamente com auxílio da ex companheira, aprendeu a ser Pai solteiro.