Essa mulher só pode ser especial. Mesmo com seus medos doidos de trovoada, de por a culpa em alguma coisa que comeu, de não ir ao médico ou se quer ouvir minha opinião. Tudo remete a Deus. Não se apega a mais nada. Quando não tem saída, fala de Deus. E Deus que se cuide, porque se Ele não existir “ta” ferrado, porque ela vai reclamar.
Mas não é por isso que escrevo sobre minha mãe. Dia desses, conversando com meu filho mais velho, fiz uma viagem no tempo. Fui até minha infância e adolescência, e fato conhecido era o alcoolismo do meu pai. Desde que me conheço por gente, dos cinco anos de idade, 1970, até quando saí de casa aos 26 anos, 1991, meu pai chegava bêbado, xingava minha mãe de puta para baixo, botava a gente para correr. Lá pelas quatro horas da madrugada, depois de vagar pelas ruas dormíamos na casa de alguém conhecido ou voltávamos para casa. Meu pai já dormindo, luzes apagadas, meus irmãos abriam uma janela e me colocavam dentro de casa, e eu, pé-ante-pé, com um medo louco, abria a porta para eles entrarem. Ficávamos um pouco na cozinha, ríamos da situação, do corridão do pai e íamos dormir todos trancafiados no mesmo quarto. Isso lá pelas cinco da manhã. Em seguida levantávamos para ir à escola e minha mãe para o trabalho. Ela era balconista de lojas de tecido. Meu pai, voltava as dez horas e preparava o almoço. Ali ele começava a beber. Mas era sagrado, não falhou um dia em beber e não falhou um dia em fazer o almoço. Minha mãe, nesses anos todos, nunca levantou a mão para um filho. Nunca bateu em um de nós. Sequer disse um palavrão. Nunca! Jamais descarregou em nós suas tristezas. Manteve-se firme em seu propósito de família e trabalho. E para completar, sempre nos ensinou a respeitar nosso pai. Depois que crescemos jamais admitiu que levantássemos a mão para ele. Sempre dizendo que ele não era assim, que ele fora da bebida era um bom homem. Nunca entendemos. Nunca desrespeitei seu pedido. Para ajudar, na velhice, cuidou dele em sua deteriorização alcoólica. Durante oito anos tomou conta dele, sem ajuda dos filhos, medicando, levando para hospitais e no fim de sua vida ele pediu perdão a ela, e faleceu segurando sua mão.Minha mãe!
Hoje quando chamo a atenção de meus filhos, fico envergonhado por perder a paciência, então lembro como minha mãe nos cuidou e peço desculpas a eles, não por lhes chamar a atenção, mas por ser ríspido.
Minha homenagem a essa mulher, que talvez pudesse ter se separado, mas tinha medo do rótulo “separada” e como a sociedade veria os seus filhos. Sofreu, sofremos. Poderia ter sido melhor, mas ficar junto foi a única maneira que ela conhecia em ser família. Minha mãe.
Mas não é por isso que escrevo sobre minha mãe. Dia desses, conversando com meu filho mais velho, fiz uma viagem no tempo. Fui até minha infância e adolescência, e fato conhecido era o alcoolismo do meu pai. Desde que me conheço por gente, dos cinco anos de idade, 1970, até quando saí de casa aos 26 anos, 1991, meu pai chegava bêbado, xingava minha mãe de puta para baixo, botava a gente para correr. Lá pelas quatro horas da madrugada, depois de vagar pelas ruas dormíamos na casa de alguém conhecido ou voltávamos para casa. Meu pai já dormindo, luzes apagadas, meus irmãos abriam uma janela e me colocavam dentro de casa, e eu, pé-ante-pé, com um medo louco, abria a porta para eles entrarem. Ficávamos um pouco na cozinha, ríamos da situação, do corridão do pai e íamos dormir todos trancafiados no mesmo quarto. Isso lá pelas cinco da manhã. Em seguida levantávamos para ir à escola e minha mãe para o trabalho. Ela era balconista de lojas de tecido. Meu pai, voltava as dez horas e preparava o almoço. Ali ele começava a beber. Mas era sagrado, não falhou um dia em beber e não falhou um dia em fazer o almoço. Minha mãe, nesses anos todos, nunca levantou a mão para um filho. Nunca bateu em um de nós. Sequer disse um palavrão. Nunca! Jamais descarregou em nós suas tristezas. Manteve-se firme em seu propósito de família e trabalho. E para completar, sempre nos ensinou a respeitar nosso pai. Depois que crescemos jamais admitiu que levantássemos a mão para ele. Sempre dizendo que ele não era assim, que ele fora da bebida era um bom homem. Nunca entendemos. Nunca desrespeitei seu pedido. Para ajudar, na velhice, cuidou dele em sua deteriorização alcoólica. Durante oito anos tomou conta dele, sem ajuda dos filhos, medicando, levando para hospitais e no fim de sua vida ele pediu perdão a ela, e faleceu segurando sua mão.Minha mãe!
Hoje quando chamo a atenção de meus filhos, fico envergonhado por perder a paciência, então lembro como minha mãe nos cuidou e peço desculpas a eles, não por lhes chamar a atenção, mas por ser ríspido.
Minha homenagem a essa mulher, que talvez pudesse ter se separado, mas tinha medo do rótulo “separada” e como a sociedade veria os seus filhos. Sofreu, sofremos. Poderia ter sido melhor, mas ficar junto foi a única maneira que ela conhecia em ser família. Minha mãe.