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segunda-feira, 9 de março de 2009

Numa aula de teatro

Ao preparar minhas aulas de teatro (1992-1995), para o segundo grau (Ensino Médio), encontrei um livro sobre a história do Teatro em fragmentos textos teatrais. Nele, vários atos e cenas, auxiliam na compreensão da tessitura, nos emaranhados que compõe a dramaturgia em cada tempo, em cada autor, em cada palavra. Apresento-lhes este texto, que me emocionou profundamente, me iludiu com um sentimento além do indivíduo, criando uma nova convenção social. Me iludiu com um sentimento, que não somente rompeu um hímen carnal, mas que rompeu as membranas o Amor. Membranas de sentimentos verdadeiros, profundos, felizes e que, com mel nos lábios, ousamos denominá-los amor.
O amor romântico, o pathos, doença, tomou seu lugar, resumindo a dois o que era universal, o Amor Liberto (redundância. pois se não é liberto, não é Amor)
Porém quão doente (não) é o amor, querer ousar destruir o âmago das membranas, himens inversos, pois não se rompem, ao contrário, nos envolvem, sufocam, obscurecem a alma, que quer amar o que já não é mais amável, mas enjaulável. Que embrutecido como pedra só aceita o pó, mas que ao pó não voltará, porque, Amor Romântico,  acorrenta um ao outro, expurga o Amor Liberto e inventa o acorrentar-se como opção livre. Ainda assim, das gêneses do Amor Romântico (gostar de ser escravo), vê-se um Romeu negando a si, aos que fazem ser Montechio, suas raízes..
Shakespeare cria um Romeu sabedor de que para amar tem de deixar de ser Romeu, tem que abandonar o que lhe liberta e acorrentar-se. 
Shakespeare traça o fim do Amor comunitário para o individualista, seguindo a sina de Tristão e Isolda e seus sofrimentos como ápice do amor, sofrer, amargurar-se como felicidade, corroer-se como alimento, apoderar-se escravizar-se, acomodar-se no incômodo, contrariar-se do contrário, abrir mão do Amor Liberto em troca do Amor Romântico limitado.
A frase última de Romeu é a morte: Não, minha bela, nem Montecchio, nem Romeu! Já que meu nome não te agrada, eu não sou eu!
ROMEU E JULIETA
W.SHAKESPEARE
(In: TEATRO: uma síntese em atos e cenas. Olga Reverbel. LPM. pp: 40-42. São Paulo. 1987.)
ATO I - CENA II
(Verona. Jardim dos Capuleto.)
ROMEU - Ri-se da cicatriz quem nunca foi ferido. (Julieta aparece à janela)
Mas que silêncio! Que luz será aquela? Que brilha na moldura da janela?
Ó janela, ó janela! És o sol nascente
E Julieta o sol resplandecente!
Surge ó sol! Mata a lua ciumenta
Que já desmaia pálida de inveja,
Por ver que tu, sua sacerdotisa,
És mais bela do que ela! Deixa, pois,
De servi-la, já que se mostra tão ciumenta!
O manto das vestais de seu cortejo
Tem uma cor embaciada e triste,
Como a túnica branca dos dementes!
Atira-a fora!
É a minha amada, é o meu amor!
Se ela soubesse o que ela é para mim!
Está falando...Mas não ouço nada...
Ah! Já sei! São seus olhos! Eles falam!
Vou responder. Mas, que ousadia a minha!
Se não é para mim que está falando!
Que modo de apoiar o rosto sobre a mão!
Oh! Quem me dera ser a luva dessa mão
Para poder tocar aquele rosto!
JULIETA - Ai de mim, ai de mim!
ROMEU - É ela! Está falando!
Fala de novo, anjo resplandecente!
Pois tu pairas tão alto sobre mim
E brilhas tanto dentro desta noite
Como um divino mensageiro alada,
Sobre o dorso etéreo,
Aos olhos espantados dos mortais
Que, espantados para ver teu voo,
Inclinam a cabeça para trás!
JULIETA - Romeu, Romeu! Por que razão tu és Romeu?
Oh! Renega teu pai e abandona esse nome!
Ou se não queres jura então que me amarás
E eu deixarei de ser Julieta Capuleto!
ROMEU - (À parte.) Devo continuar a ouvir ou responder-lhe?
JULIETA - Em ti, só o teu nome é que é meu inimigo!
Tu não és um Montecchio, mas tu mesmo!
Afinal, que é um Montecchio? Não é um pé,
Nem a mão, nem um braço, nem um rosto,
Nada do que compõe um corpo humano.
Toma outro nome! Um nome! Mas o que é um nome?
Se outro nome tivesse a rosa, em vez de rosa,
Deixaria de ser por isso perfumosa?
Assim também, Romeu, se não fosses Romeu,
Terias com outro nome, esses mesmo encantos
Tão queridos por mim! Romeu, deixa esse nome
E, em troca dele, que não faz parte de ti,
Toma-me a mim, que já sou toda tua! (Saindo da sombra)
ROMEU - Farei o teu desejo de bom grado!
Por ti, eu trocarei seja o que for!
Por ti, serei de novo batizado:
Não me chames de Romeu... mas sim o Amor!
JULIETA - Quem és tu, que assim vens acobertado
Na noite, surpreender o meu segredo?
ROMEU - Já não sei de que nome me servir
Para dizer-te que sou eu, minha querida!
Tão odioso a mim mesmo este meu nome é agora,
Por ser um nome odioso para ti,
Que se o tivesse escrito aqui, o rasgaria!
JULIETA - Poucas palavras desta voz bebi,
Mas pelo som longo a reconheci!
Não te chamas Romeu? Não és um Montecchio?
ROMEU - Não, minha bela, nem Montecchio, nem Romeu! Já que meu nome não te agrada, eu não sou eu!

5 comentários:

  1. Olá Ricardo!
    Importante essa relação entre a expressão da linguagem escrita e corporal, elas se contemplam nas relações com o mundo. Parabéns pelo espaço
    Ab[]s
    Luiz

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  2. Ola Ricardo, tudo bem?
    Gostaria de pedir a sua ajuda.Preciso apresentar uma peça de teatro no meu colegio.Abordamos sobre os terremotos.E eu serei uma rica futil e depois uma testemunha.Na rica tenho que criar um personagem futil e ao mesmo tempo engraçada.Ja na testemunha, continuo sendo a futil rica,porem arrependida.. percebendo que nao é so o dinheiro que importa na vida(pois acabo perdendo o meu filho no terremoto, e antes nem atençao eu dava a ela).Preciso disso o mais rapido possivel. Se puder me ajudar a escrever algumas falas eu ficaria muito grata.Poste aqui ou entao mande para mim por este email:feoosa@gmail.com
    Muito obrigada !

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  3. corrigindo o email. mande para gabiigm@hotmail.com

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